''O Poetinha''

''Com as lágrimas do tempo e a cal do meu dia,
fiz o cimento da minha poesia''.

Chamá-lo dessa forma é usar com muito carinho a palavra ''poeta'',
se referindo a Vinicius de Moraes.
Nunca vi tanto lirismo, como vejo nas poesias deste ilustre e
memorável poeta dos tempos da bossa nova!
Sua habilidade com as palavras, se volta a temas sociais freqüentes,
sutilmente banais, mas intenso, sem perder profundidade e
sensibilidade para com os seus amores fortemente vividos e
indelevelmente descritos através de formas tão perfeitas!

Tudo era, nele, extremamente poesia!
Vale registrar o brilho de sua inspiração genial!
Me lembro do momento em que soube de sua morte.....
estava a viajar, tinha que aproveitar o período de férias do meio
do ano, depois de meses de trabalhos e provas escolares a corrigir,
eu perdia meu poeta preferido e um músico que nunca
mais houve outro igual, pena....pesar... diria que seu
parceiro, ''Toquinho'' também lamenta por ele não ter vivido
a geração dos sábios cientista, em se falando de clonagem de
grandes homens sem nenhuma imperfeição!
Para este, o dna da poesia estava intrinsicamente ligado ao
amor e suas manifestações, pois tudo fora verbalizado
e descritos com perfeição!
E lá se vão alguns anos de saudades!


''Soneto da Mulher Inútil''

De tanta graça e de leveza tanta,
que quando sobre mim, como a teu jeito,
eu tão de leve sinto-te no peito,
que o meu próprio suspiro te levanta.

Tu, contra que me esbato liquefeito,
rocha branca, brancura que me espanta,
brancos seios azuis, nívea garganta,
branco pássaro fiel com que me deito.

Mulher inútil, quando nas noturnas
celebrações, náufrago em teus delírios,
tenho-te toda, branca, envolta em brumas.

São teus seios tão tristes como urnas,
são teus braços tão finos como lírios,
é teu corpo tão leve como plumas!
Vinícius de Moraes

Fica aqui uma pergunta: - Qual mulher não gostaria de ser
retratada em palavras por ele?
Eu, diria que todas, indescutivelmente!......