Saturday, November 08, 2008

"LIXO" - Crônica

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote
de lixo. É a primeira vez que se falam.
_ Bom dia...
_Bom dia.
_ A senhora é do 610.
_ E o senhor é do 612.
_ É.
_ Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
_ Pois é...
_ Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
_ O meu quê?
_ O seu lixo.
_ Ah...
_ Reparei que nunca é muito. Sua família deve se pequena...
_ Na verdade sou só eu.
_ Mmmmm. Notei também que o senhor usa muita comida
em lata.
_ É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não
sei cozinhar...
_ Entendo.
_ A senhora também...
_ Me chame de você.
_ Você também perdoe a minha indiscrição, mas também
tenho visto alguns restos de comida em seu lixo, champignons,
coisas assim...
_ É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes.
Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
_ A senhora... Você não tem família.
_ Tenho , mas não aqui.
_ No Espírito Santo.
_ Como é que você sabe?
_ Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito santo.
_ É. Mamãe escreve todas as semanas.
_ Ela é professora?
_ Isso é incrível? Como foi que você adivinhou?
_ Pela letra no envelope. Achei que fosse letra de professora.
_ O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
_ Pois é...
_ No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
_ É.
_ Más notícias?
_ Meu pai. Morreu.
_ Sinto muito.
_ Ele já estava bem velhinho. Lá no sul. Há tempos não nos
víamos.
_ Foi por isso que você começou a fumar?
_ Como é que você sabe?
_ De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de
cigarros amassadas no seu lixo.
_ É verdade. Mas consegui parar outra vez.
_ Eu, nunca fumei
_ Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimidos
no seu lixo...
_ Tranqüilizantes, foi uma fase. Já passou.
_ Você brigou com o namorado, certo?
_ Isso você também descobriu no lixo?
_ Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora.
Depois, muito lenço de papel.
_ É, chorei bastante, mas já passou.
_ Mas hoje ainda têm uns lencinhos...
_ É que estou comum pouco de coriza.
_ Ah.
_ Vejo muitas revistas de palavras cruzadas no seu lixo.
_ É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito.
Sabe como é.
_ Namorada?
_ Não.
_ Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu
lixo. Até bonitinha.
_ Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
_ Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo,
você quer que ela volte.
_ Você já está analizando o meu lixo!
_ Não posso negar que o seu lixo me interessou.
_ Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria
de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
_ Não! Você viu meus poemas?
_ Vi e gostei muito.
_ Mas são muito ruins!
_ Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado, eles só
estavam dobrados.
_ Se eu soubesse que você ia ler...
_ Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando.
Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
_ Acho que não. Lixo é domínio público.
_ Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público.
O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra da vida
dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social.
Será isso?
_ Bom, aí você está indo longe demais no lixo. Acho que...
_ Ontem no seu lixo...
_ O quê?
_ Me enganei, ou eram cascas de camarão?
_ Acertou. Comprei alguns camarões graúdos e descasquei.
_ Eu adoro camarão.
_ Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
_ Jantar juntos?
_ É.
_ Não quero dar trabalho.
_ Trabalho nenhum.
_ Vai sujar a sua cozinha.
_ Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.
_ No seu lixo ou no meu?

(Extraído do livro - "O Analista de Bagé" )

Esta crônica de Luís Fernando Veríssimo, é super inteligente!
Se há encontros desta forma, os prédios de apartamentos,

correm o severo risco de se tornarem verdadeiros ''guetos'',
o que seria insuportável! Amizade sim, intimidade, não!

Friday, November 07, 2008

Todo artista....




‘’Todo artista molha seus pincéis
em sua alma,



e pinta
sua própria natureza.’’


Henry Ward Beecher –
pensador e orador americano.

Soar do farol!





Deixo à deriva o meu coração
Tomo distância,
Permito o soar do farol
E deprecio a sua solidão
Canto, mas me calo,
Já não sei do toque,
Já não sei do beijo,
Já não sei do amor!

Sem teus toques,
Sem teus beijos,
Fico sem teu amor,
Não se faz amor!



Náufrago!
O amor não me salva!.....
Mares/Poesias-2008

Chuvas da tarde para o dia acabar em versos!..




Chuva fria da tarde,
Me avisa
Que meu amor tarda!

Voam gotas d’água
Bela cascata, chuva,
Que meus olhos vêem!

Tão bela lua,
Tímida e flutuante,
Baila em névoa branca!
Mares
Poesias/2008

Um filme à ser visto!

http://wip.warnerbros.com/paintedveil

O Despertar de uma paixão
É um belo filme!
De início achei que fosse caminhar para terrível tortura chinesa,
e fui percebendo aos poucos, que esta, foi sutil!
Com cenas belíssimas, conta a história de um amor, não corres-
pondido, baseado no romance de W. Somerset Maugham, que
acontece nos anos 20, em 1925, ambientado na Inglaterra e
na China.
O jovem casal, Walter e Kitty, um médico-bacteriologista, de
classe média, ela uma jovem rica querendo sair das garras da
mãe, que se casam-se em Londres e logo mudam-se para
Xangai, onde vai trabalhar como voluntário. Indiferente ao
amor do marido, pois não o ama, ela o trai. Ele, como numa
doce vingança, com o orgulho ferido, aceita o outro emprego
numa distante e miserável aldeia Mei-tan-fu, arruinada por
uma epidemia fatal de cólera.Ela,então, com medo de ser
taxada de adúltera, título que para a época implicaria em
difamação, submete-se a acompanhá-lo.
Na aldeia, o casal vai viver numa casa onde os antigos mora-
dores acabam de morrer da doença. Os serviçais percebem
frieza do relacionamento do casal e de como, um jovem
médico, se entrega ao trabalho, tentando vencer os obstáculos
nas crendices dos camponeses, querendo instalar algumas
medidas de higiene.

O momento político do filme é a indesejada presença de ocidentais
no período histórico da China-colonial.
Ela aos poucos vai perdendo os hábitos de moça mimada,
ajudando no convento os órfãos que ali vivem, tentando dar
sentido à sua vida.
Escolhi o filme, não só pelo nome, mas pela fotografia, as margens
do rio Yang-Tsé, e pelo perfil das montanhas cobertas sob as densas
de neblina num dos lugares mais bonitos do mundo.
O filme é uma lição de amor, que nos faz refletir sobre a possibilidade
de redescobrir que numa relação fria e distante, pode–se estar
um grande amor.
O que me surpreendeu foi o final, a aceitação do filho que estava
por vir, a descoberta da doença, a morte, e de como ele a
percebeu mais forte, vivendo os últimos momentos de vida do
homem que ela descobriu amar, e de quem a amou toda a vida!

Curiosidades sobre o filme:

_O projeto estava engavetado na prateleira de Edward Norton
desde 1999, quando decidiu assumi-lo como produtor. Em
2001, Naomi Watts entrou para a equipe como produtora
e protagonista.
_Durante 5 anos a produtora Sara Colleton, o roteirista Ron Nyswaner
e o ator Edward Norton trabalharam para que ele fosse realizado.
_ Nicole Kidman esteve cotada para protagonizar o filme.
_ No outono de 2004 Edward Norton telefonou para Naomi Watts
para convidá-la a atuar em ‘’O Despertar de uma Paixão’’.
A atriz inicialmente não queria trabalhar no projeto, pois tinha
saído de 8 meses de filmagens para King Kong (2005) e preferia
descansar durante algum tempo. Norton insistiu no convite e
propôs que as filmagens ocorressem apenas no verão seguinte,
e ela aceitou.
_ Esta é a 3ª adaptação do livro de W. Somerset Maugham para
o cinema. As anteriores foram ‘’O Véu Pintado’’ (1934) com Greta Garbo, www.imdb.com/media/rm4212760320/tt0025617
e ‘’The Seventh Sin’’ (1957), com Eleanor Parker
www.imdb.com/title/tt0050954/
_O orçamento do filme foi de US$ 19,4 milhões.



Frases do Escritor
''Nada no mundo é permanente, e somos tolos
em desejar que uma coisa perdure, mas mais
tolos ainda seríamos se não a apreciássemos
enquanto a temos''.

''As mulheres estão sempre dispostas a ouvir uma
dissertação sobre o amor''.
W. Somerset Maugham

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